A trágica metáfora da queda de um avião.

            O Apóstolo Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios, disse: "Aquele, pois, que pensa estar em pé, olhe não caia" (10.12). Por que será que Paulo disse isto? A resposta é muito simples: porque ninguém está livre de uma queda. Pode ser quem for, estando na posição que estiver, tendo o conhecimento e a sabedoria que tiver, tem que vigiar, pois a queda não é uma possibilidade apenas para os neófitos.

            Sabemos que só existe um Caminho para a salvação (Jo 14.6), e o nome deste Caminho é o único pelo qual importa que sejamos salvos, como falou o Apóstolo Pedro: "(...) seja conhecido de vós, e de todo o povo de Israel, que em nome de Jesus Cristo, o nazareno, aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos (...). Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta como pedra angular. E em nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, em que devamos ser salvos" (Atos 4.10-12). 

            Ao contrário da salvação, que só alcançamos através de um único Caminho - o Senhor Jesus Cristo -, a queda pode ser provocada por vários motivos. Como sempre gosto de trabalhar com metáforas, vou comparar a queda de um crente com a queda de um avião. O matemático suíço Daniel Bernouilli elaborou, no século XVIII, o processo que permite o voo. "¹A razão pela qual os aviões voam tem a simplicidade das leis da natureza. Eles voam porque o desenho de suas asas mantém a pressão ascendente mais forte do que a atração da gravidade, dando-lhes sustentação. Por que os aviões caem? Essa pergunta pode comportar centenas, até milhares de respostas, mas, em todas elas, inclusive nos eventos inusitados, como explosões e choques, os aviões caem quando não conseguem manter a sustentação e a lei da gravidade os atrai implacavelmente para o centro da Terra, aonde obviamente não chegam por se espatifarem antes no solo ou na superfície do mar." Perceba que é o desenho das asas de um avião que possibilita o seu voo, portanto, um único detalhe. Todavia, muitos detalhes podem interferir na sustentação desse avião, provocando, assim, a sua queda. Com o crente não é diferente, pois só existe uma maneira de estar em pé diante de Deus: permancer no Senhor Jesus Cristo. De outra forma, o crente perderá a sustentação e cairá como um avião,  quando a relação das quatro forças aerodinâmicas - empuxo, arrasto, sustentação e peso - sai do controle.  

            Ninguém pense que tem força em si mesmo para se manter em pé na presença de Deus -  não existe super crente! Muitos, após terem tido um encontro real como o Senhor Jesus Cristo, voltaram a praticar as mesmas coisas que praticavam no passado - e até piores. Uns retornaram às drogas, outros ao álcool, muitos à prostituição, adultério, mentiras, roubo, engano, etc. Aí se cumpre a Palavra do Senhor que diz: "Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo pelo pleno conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, ficam de novo envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior que o primeiro. Porque melhor lhes fora não terem conhecido o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado. Deste modo sobreveio-lhes o que diz este provérbio verdadeiro: Volta o cão ao seu vômito, e a porca lavada volta a revolver-se no lamaçal" (2 Pe 2.20-22). Lemos acima que o desenho das asas de um avião é o motivo que o faz voar, dando-lhe sustentação. Esta sustentação é garantida quando as quatro forças aerodinâmicas estão sob controle. O crente só tem sustentação no Senhor Jesus Cristo e, para manter-se sustentado Nele, também precisa de quatro atitudes imprescindíveis, que não são as quatro forças aerodinâmicas que mantém um avião voando (empuxo, arrasto, sustentação e peso), mas, obediência, santificação, vigilância e oração.  

            I) Obediência - O crente obediente alegra o coração de Deus. A palavra de Deus nos diz que o obedecer é melhor do que o sacrificar: "Samuel, porém, disse: Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à voz do Senhor?" (I Sm 15.22).

            O Senhor Jesus Cristo é o maior exemplo de obediência que podemos ter, pois Ele "foi obediente até a morte, e morte de cruz" (Fp 2.8). Essa obediência do Filho de Deus anulou o poder da morte que foi imputado pelo pecado da desobediência de Adão, conforme escreveu o Apóstolo Paulo aos Romanos: "Porque, assim como pela desobediência de um só homem [Adão] muitos foram feitos pecadores, assim também pela obediência de Um [Jesus Cristo] muitos serão justificados" (Rm 5.19]. Ainda escrevendo, desta vez aos Coríntios, Paulo disse: "...embora andando na carne, não militamos segundo a carne, pois as armas da nossa milícia não são carnais, mas poderosas em Deus para demolição de fortalezas; derribando raciocínios e todo baluarte que se ergue contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência a Cristo; e estando pronto para vingar toda desobediência, quando for cumprida a vossa obediência" (II Co 10.3-6). A obediência é, então, uma atitude imprescindível para garantir que o crente não perca a sua sustentação no Senhor Jesus Cristo;

            II) Santificação - Em Levítico 11.44 o Senhor diz: "Porque eu sou o Senhor vosso Deus; portanto santificai-vos, e sede santos, porque eu sou santo...". Santificação aqui significa consagração, separação e dedicação total a Deus; significa nos separarmos das trevas para andarmos na luz, como Deus na luz está e, assim, "temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado" (1 Jo 1.7).

            O crente não pode estar coxeando entre dois pensamentos: ou serve a Deus ou ao diabo; anda segundo o Espírito ou segundo a carne. Andar desconcertado em nome da cultura de um país, por exemplo, pode ter a aquiescência de pastores negligentes e corruptos, mas para Deus, que é Santíssimo, nada substitui Seu padrão de santidade - o crente deve, imitando o exemplo do Senhor Jesus Cristo, influenciar a cultura de um país, e não ser influenciado negativamente por ela. Está bem claro na Epístola aos Hebreus 12.14: "Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor." O Senhor Jesus rogou ao Pai para que os seus Apóstolos fossem santificados na Sua Palavra; e não apenas os Apóstolos, mas todos aqueles que haveriam de crer Nele pela Palavra de Deus: "santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade. E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela tua palavra hão de crer em mim..." (Jo 17.17-20). Portanto, a santidade do crente também é imprescindível para que ele permaneça sustentado no Senhor Jesus Cristo;

            III) Vigilância -  O problema de muitos crentes é a falta de vigilâcia. Há quem vigie no falar, mas não vigia no ouvir - como aqueles que não falam da vida dos outros, mas gostam de ouvir fofocas. Outros vigiam para não adulterar, mas gostam de assistir novelas e filmes onde há cenas de adultério. Muitos vigiam na maneira de se vestir, mas ficam vendo pessoas seminuas no Orkut, Facebook e coisas do gênero. Ao anjo da Igreja de Sardes, o Senhor Jesus mandou João escrever: "Lembra-te, portanto, do que tens recebido e ouvido, e guarda-o, e arrepende-te. Pois se não vigiares, virei como um ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei" (Ap 3.3). O Senhor Jesus também alertou: "Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor" (Mt 24.42).

            A vigilância é tão importante para o crente, que o Senhor Jesus a colocou antes mesmo da oração, na orientação aos seus discípulos daquela época e dos que haveriam de vir: "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca" (Mc 14.38). O crente verdadeiramente vigilante, vigia no que fala, no que ouve, no que pensa, no que olha, no que faz, no que bebe, no que toca, no que busca na Internet, no que assiste na televisão, no que conversa e com quem conversa no MSN, enfim, ele está bem enquadrado no Salmo 1, que diz: "Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores; antes tem seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite. Pois será como a árvore plantada juntos às correntes de águas, a qual dá o seu fruto na estação própria, e cuja folha não cai; e tudo quanto fizer properará" (Sl 1.1-3);   

            IV) Oração - No hino 296 da Harpa Cristã tem uma parte que diz: "Jesus teve completa vitória porque sempre viveu em oração / Muitos santos chegaram à glória, sob o manto da doce oração". Este mesmo hino também afirma que "qual orvalho que dá vida às flores, assim é para o crente a oração" e, aproveitando este gancho metafórico, quero ratificar o que muito já ouvi dizer: a oração é a respiração do crente! É orando que o crente mantém uma relação íntima com Deus. O próprio Faraó reconhecia o poder da oração, pois disse a Moisés, quando acometido pelo enxame de moscas: "Eu vos deixarei ir para que ofereçais sacrifícios ao Senhor vosso Deus no deserto; somente não ireis muito longe; e orai por mim" (Êx 8.28). Diante de outra praga, o mesmo Faraó disse a Moisés: "Orai ao Senhor; pois já bastam estes trovões da parte de Deus e esta saraiva..." (Êx 9.28).  O Salmista Davi sabia o valor da oração e, em um dos seus Salmos, disse: "Atende à voz do meu clamor, Rei meu e Deus meu, pois a Ti orarei" (Sl 5.2). E no Salmo 122.6 disse: "Orai pela paz de Jerusalém!"

            O Apóstolo Paulo, em sua primeira carta aos irmãos de Tessalônica, disse: "Orai sem cessar!" (5.17). Isso "²não significa que devemos estar com uma postura de cabeças baixas  e olhos fechados o dia todo. Paulo não está se referindo a falar sem parar, mas uma atitude de consciência da presença de Deus e de render a Ele tudo o que fazemos, o tempo todo. Todo momento que estamos acordados deve ser vivido com a consciência de que Deus está conosco e está ativamente envolvido em nossos pensamentos e ações. Quando nossos pensamentos se voltam à preocupação, medo, desencorajamento e ira, devemos conscientemente e rapidamente tornar todo pensamento em oração e toda oração em ação de graças. Em sua carta aos Filipenses, Paulo nos comanda a não mais sermos ansiosos, mas ao contrário: "Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças" (4:6). Ele ensinou os crentes de Colossos a perseverarem "na oração, vigiando com ações de graças" (Colossenses 4:2). Paulo exortou os crentes da igreja de Éfeso a enxergarem oração como uma arma para ser usada em batalhas espiriruais (Efésios 6.18).

            Durante o percorrer do dia, oração deve ser a nossa primeira resposta a toda situação atemorizante, a todo pensamento ansioso, a toda tarefa indesejada que Deus comanda. John MacArthur adverte que a falta de oração vai fazer com que paremos de depender da graça de Deus e passemos a depender de nós mesmos. Orar sem cessar é, em essência, dependência da comunhão com o Pai.

            Para os Cristãos, oração é como respiração. Você não tem que pensar para respirar porque a atmosfera exerce pressão nos seus pulmões e o força a respirar. Por isso é mais difícil prender a respiração do que respirar. Semelhantemente, quando nascemos de novo e passamos a fazer parte da família de Deus, entramos em uma atmosfera espiritual onde a presença e a graça de Deus exercem pressão, ou influência, nas nossas vidas. Oração é a resposta normal a essa pressão. Como crentes, temos todos entrado na atmosfera divina para respirar o ar da oração. Só então podemos sobreviver na escuridão desse mundo."

            Diante do exposto, concluímos que obedecer, santificar-se, vigiar e orar são atitudes imprescindíveis para que o crente não caia, como um avião desgovernado, em meio à turbulência do pecado. Manter-se sustentado no Senhor Jesus Cristo é a única maneira do crente invalidar, em sua própria vida, a trágica metáfora da queda de um avião.  

            
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

¹ALTMAN, Fábio. O Grito das Caixas-Pretas, Revista Veja, Editora Abril, edição 2219 - ano 44 - nº 22, 1º de junho de 2011, p. 99.
² Site na Internet: GotQuestions.org  (acesso às 14:45 h do dia 01/06/2011). Observação: os grifos no texto são meus.  


Pastor Hafner
Chavannes - Suíça

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