Quem me conhece bem, sabe que sou um veraz defensor da Harpa Cristã - não abro mão de cantar pelo menos dois dos seus hinos na abertura dos Cultos. São louvores compostos para glorificar o SENHOR, que é digno de toda honra e glória. Nos dias hodiernos, porém, parece que muitos crentes estão deixando de lado a prática de cantar os hinos da Harpa, pois os considera ultrapassados, "cafonas", obsoletos, etc. Geralmente são novos crentes, que estão sendo doutrinados sob uma nova visão, aquela do "ôba-ôba", onde o importante é o emprego de técnicas para atrair o maior número de pessoas para dentro dos templos, mesmo que isso signifique obliterar a Verdade contida na Palavra de Deus. Abrem-se os Cultos com "músicas gospel" inspiradas sabe-se lá por quem, compostas simplesmente para atender o famigerado desejo de lucro da indústria fonográfica, menos para louvar a Deus.
Não estou generalizando, pois sei que existem muitas músicas, mesmo em nossos dias, compostas para a glória de Deus. Eu mesmo canto, toco e gosto de muitas e, com certeza, o SENHOR recebe com alegria quando as louvamos para adorá-Lo. Portanto, seria um grande erro da minha parte afirmar que só os hinos da Harpa Cristã tem valor para Deus. E, aqui pra nós, nem mesmo os hinos da Harpa são recebidos por Deus, se forem cantados sem as devidas reverência e finalidade. O problema é que alguns estão percebendo o significativo crescimento do número de evangélicos e, com isso, enxergam a possibilidade de lucrar muito com esse povo, compondo, "enlatando" e vendendo músicas sem qualquer outro objetivo, a não ser ganhar dinheiro e, como não possuem inspiração alguma do Espírito Santo de Deus, esses compositores e cantores mercenários buscam fórmulas que agradem aos ouvintes e, assim, facilitem a venda dos seus produtos.
Eu poderia fazer algumas citações do livro Educação e Luta de Classes, do argentino Aníbal Ponce, para tratar do surgimento da ideia de lucro já nas sociedades primitivas e como isso contribuiu para o aparecimento do regime escravocrata. Porém, vou citar en passant o texto intitulado Cultura de Consumo Pós-Moderna *, para enfatizar a questão que tanto motiva alguns ambiciosos a compor músicas "evangélicas":
Holgonsi Soares Gonçalves Siqueira
*Fragmento retirado do 3o Capítulo (“Sociedade-cultura pós-moderna – “shopping spree” – satisfação na permanente insatisfação”) da Tese de Doutorado “Pós-modernidade, Política e Educação”, e publicado, parcialmente, no Jornal “A Razão” em 27.10.2005
"Vários estudiosos da sociedade-cultura pós-moderna (entre eles Frederic Jameson, David Harvey, Mike Featherstone, Laslie Sklair, Zygmunt Bauman e Jean Baudrillard), destacam que a característica da mesma é, antes de tudo, a de ser uma sociedade-cultura de consumo, que reduz o indivíduo à condição de consumidor (grifo meu) como conseqüência da automatização do sistema de produção. As novas formas referentes ao consumo estão relacionadas com os meios de comunicação, com a alta tecnologia, com as indústrias da informação (buscando expandir uma mentalidade consumista, a serviço dos interesses econômicos) e com as maneiras de ser e de ter do homem pós-moderno.
Tudo está relacionado ao consumo como, por exemplo, o modo de produção e de circulação dos bens, os padrões de desigualdade no acesso aos bens materiais e simbólicos, a maneira como se estruturaram as instituições da vida cotidiana (como a família, o lazer, os ambientes urbanos, etc.). Nossa sociedade-cultura de consumo constantemente cria novos espaços para os consumidores, tornando o consumo um sistema global que molda as relações dos indivíduos na pós-modernidade e é reconfigurada por tecnologias variáveis que determinam os padrões de consumo.
(...)
Assim como resultado da produção existe uma "lógica do capital", nesta sociedade-cultura pós-moderna existe uma "lógica do consumo", estruturada em torno do simulacro, do hedonismo, da colagem, do "tudo vale" (grifo meu), da efemeridade, etc. Nesta lógica consumista, tudo é feito no sentido de atrair o consumidor (grifo meu); as imagens desempenham um papel importante, sendo constantemente veiculadas pela mídia; os códigos são misturados ecleticamente e os significantes não possuem sentido, pois não apresentam relação alguma.
(...)
Nesta cultura pós-moderna sem profundidade, a arte e a realidade trocaram de lugar numa "alucinação estética do real"; tudo, do mais banal ao mais marginal, estetizou-se, e desta maneira transforma-se a insignificância do mundo atual. No momento em que tudo é estetizado, que a vida nas grandes cidades tornou-se estetizada, os indivíduos são bombardeados por imagens e objetos descontextualizados, mas que evocam sonhos e desejos para um consumo desenfreado cujo resultado é o aumento indefinido dos lucros (grifo meu) no capitalismo tardio.
(...)
Este é o "mundo do "faz-de-conta" da publicidade" (Mike Featherstone) que domina a sociedade-cultura de consumo pós-moderna e evidencia sua característica principal que é apresentar um grande número de bens, mercadorias, experiências, imagens e signos novos para que o homem pós-moderno deseje e consuma (grifo meu). Para David Harvey, a publicidade "é a arte oficial do capitalismo; traz para a arte estratégias publicitárias e introduz a arte nessas mesmas estratégias", tendo, portanto, juntamente com as imagens da mídia uma grande importância na dinâmica de crescimento do capitalismo tardio, através da manipulação dos desejos e gostos. Esta dinâmica está totalmente vinculada à capacidade de rapidez do mercado em explorar novas possibilidades e na sua rapidez em apresentar novos produtos, criar novas necessidades e novos desejos.
(...)
Ao forçar as pessoas a lidarem com a descartabilidade, com a novidade e as perspectivas de obsolescência instantânea, a cultura de consumo pós-moderna faz com que o indivíduo perca sua capacidade de organizar coerentemente seu passado e seu futuro, a vida deixa de ser um projeto com um significado, e suas práticas resultam numa heterogeneidade que se desenrola numa série de fragmentações do tempo vivido como presente perpétuo.
Como o esquizofrênico, o indivíduo pós-moderno enfoca determinadas experiências e imagens desconectadas, isoladas, e que não se articulam em seqüências coerentes, sendo este enfoque feito com intensa imersão e imediatismo. Isto quer dizer que o tempo e a história não constituem mais uma lógica compreendendo processos e relações sociais reais; a história reduz-se a significantes (estilos, referências, imagens, objetos) que podem circular independentemente de seus contextos originais. Neste quadro, a posição dos indivíduos pode ser assim caracterizada: "apatia em relação ao passado; renúncia sobre o futuro e uma determinação de viver um dia de cada vez" (Anthony Giddens)."
Fonte: http://www.angelfire.com/sk/holgonsi/consumismo2.html (site consultado no dia 02 de maio de 2011, às 15:00 h).
Seria muito bom se todos os crentes pedissem a Deus discernimento para saber o que procede e o que não procede Dele. Muitos não estariam cantando, tocando e até dançando ao som de músicas que não passam de produtos de consumo, com os mesmos ritmos que embalam discotecas, trios elétricos, escolas de samba, casas de shows e etc. O objetivo é um só: LUCRO! Como já disse antes, não estou generalizando. Todavia, vale a orientação para que meditemos nas letras e nos ritmos de certas músicas ditas "evangélicas"; vamos pesquisar para vermos se os seus compositores possuem realmente vida no altar, se são de oração. Por outro lado, vamos sempre cantar os hinos da Harpa Cristã, pois neles temos a certeza de que Deus está recebendo e se alegrando. A Ele toda honra, glória e louvor para todo o sempre. Amém!
Pastor Hafner
Chavannes - Suíça
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